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terça-feira, 10 de novembro de 2015

AMPUTAÇÕES: Implicações Psicológicas e Emocionais...




Não se deixe vitimizar: resista, confronte, enfrente e em tempo algum desista sendo negligente ou displicente consigo mesmo. 

Deijone do Valle
  

Falar de e sobre pessoas nos remete a um universo multidimensional, permeado por anseios, buscas, desejos, alegrias, apatias e tristezas.

Vamos arquitetando a vida ao longo de nossa existência e promovendo escolhas ou mesmo deixando de fazê-las, que também já é uma escolha, e logicamente assumindo ou não as consequências.

Então? Você melhor, o mundo também fica melhor, e a segurança ou vulnerabilidade de cada indivíduo, depende em grande medida do esforço adaptativo, e de sua forma de enfrentamento dos desafios encontrados ao longo do ciclo vital.


O provável grande desafio da espécie humana neste século, é o envelhecimento com autonomia, pois a vida é uma grande história, mas alguns roteiros nós mesmos necessitamos escrevê-los.

Como tem sido o seu olhar para a vida?

Quais são suas expectativas, propósitos e limitações?

Espirito obeso e ou fragmentado?

Indelicado com voce mesmo?

Cadê a leveza da alma?

Conhece o mito da Fênix? Esse pássaro lendário da mitologia grega, símbolo do sol, que no final de cada tarde se incendeia e morre, renascendo a cada manhã.

A fênix entrava em auto-combustão e renascia das suas próprias cinzas.

No mito, o homem expressa seus próprios anseios e fantasias e assim poderá compreender que destino dar á sua vida, usando com criatividade suas energias emocionais, reconhecendo sua vontade e responsabilizando-se  na busca da concretude de suas potencialidades e realizações.

Essa narrativa simbólica da Fênix que renasce de suas cinzas, tem associação bem próxima do rito/ação, onde poderemos renascer de nossas próprias misérias, e o simples ato de você relaxar seu tônus muscular, já é uma boa ajuda.

É o pensamento que dispara os sistemas de defesa do organismo, e um deles é o prazer, por isso acalme-se, acalma o seu coração e não impacte a sua doce massa cinzenta com doses elevadas de ansiedade e outros temores, pois estes certamente bloqueiam o sistema imunológico.

O importante é buscar a paz interior para que dessa forma, as decisões para um direcionamento da vida possam ser tomados clara, objetiva e sensatamente.

Qual foi o dia, ou o momento mais escuro de sua existência?

O que fazer quando o barco da vida balança demais?


O quê?  Passou por uma amputação?

Novas perspectivas foram criadas para a melhora da região amputada, não e verdade?

O termo amputação vem do latim - ambi: em volta/ao redor de;  e putatio: podar/retirar.

Este retirar tem como meta a manutenção da vida e confronto com o Tanatos, instinto de morte, que basicamente é por natureza destrutiva, e que de certa maneira corresponde ao nosso desejo inconsciente de voltar ao estado inorgânico da matéria, que é a morte, mas reprimimos e damos vazão á ansiedade como expressão da memória traumática.

As etiologias das amputações tem causas variada, desde as decorrentes de doenças crônico degenerativas; outras por causas traumáticas; as neoplasias; mal formações congênitas; anomalias cromossômicas e deformidades de toda ordem.

Amputação é algo que evidência e contextualiza a fragilidade de nossa identidade, de nosso self,  envolvendo estruturas neurais que se mesclam até chegar à consciência e até poderíamos adentrar a seara da metafísica, porque não?

A complexidade do psiquismo humano desafia teorias, análises neurobiológicas e conceitos devido à sua capacidade auto-reflexiva e relacional, um corpo que gera uma mente, esse dualismo corpo/mente proposto por Descartes.

É notório a ambivalência diante de um corpo que se apresenta diferente do habitual e também o olhar do outro sobre este corpo.

Esse fenômeno de olhar-se e ser olhado, certamente terá um caráter fenomenológico que exigirá restruturação, ressignificação e suporte específico diante da singularidade de cada indivíduo.

Em nossa sociedade existe uma hipervalorização da imagem corporal aliado ao estético e belo, onde absurdos são realizados na busca pelo “corpo perfeito”, imposto por padrões inatingíveis e isso afeta o equilíbrio entre auto-estima  X auto-imagem.

A aceitação social é um campo minado no binômio: ter e ser/presença ou ausência.

Essa reciprocidade é rompida pelo incomum e o inesperado como é o caso das amputações  complexas e de grande porte, sendo necessário dar um alinhamento singular ás diversidades, quebrando a concepção materialista do corpo, visto meramente como objeto.

É necessário amadurecer essa sociedade, rompendo estigmas e educando essa geração para um olhar mais ampliado sobre a aparência física, indo além do que é meramente considerado “normal”.

Ser diferente é motivo de sentimentos como vergonha, auto-piedade, inveja que são respostas que podem ser conflituosos em um mesmo indivíduo, devido a alteração de sua imagem corporal.

É premente uma relação de ajuda diante das variadas respostas emocionais de quem passa pelo processo de amputação, uma vez que envolve implicações profundas e que se evidenciam através das dimensões física, psicológica, social  e também espiritual, onde se confronta até a fé do paciente.

A possibilidade da necessidade de uma amputação gera sentimentos de insegurança e questionamentos variados, estresse e incertezas, tanto para o paciente como sua família.

Dúvidas quanto a cura, quanto ao potencial adaptativo e a própria autonomia e segurança quanto à qualidade de vida são comuns, envolvendo questões humanas e éticas,  no processo de amputação.

Informar o destino a dar à parte ou orgão a ser amputado, seja destinado a estudos e pesquisas ou sepultamento, tudo isso traz aceitação e serenidade para o paciente.

A amputação envolve estados emocionais que por sua vez desencadeia sentimentos  quanto à imagem corporal, auto-estima, socialização, produtividade ou sensação de invalidez.

A decisão de amputar, impacta de imediato o psiquismo do paciente, desenvolvendo sentimentos ambivalentes entre as relações do “eu", o seu mundo interno e o mundo das pessoas que a circundam.

E decisões assim, acoplam idéias que se revestem de sentimentos e estados de humor variados, uma verdadeira cascata de ações que não dividem nunca a linha entre o pensar e o sentir.

A amputação nos confronta com a onipotência e o Tanatos, essa força que evidencia a nossa finitude.

O sentimento da perda é real, legítimo e provoca respostas emocionais de extrema tensão e complexidade, associadas a mecanismo de defesa do ego como: negação, raiva, revolta, racionalização, procrastinação, enfim até é possível um processo depressivo.

Existe necessidade de suporte psicológico para uma ressignificação do membro ausente, devido ao sentimento psicológico de diferencição, inferioridade e ou invalidez.

O toque terapêutico físico e psicológico ajuda no enfrentamento do mundo externo, e  assimilar a nova imagem corporal aliada ao seu “eu”.

São forças poderosas que operam em nível inconsciente e com múltiplos disfarces manifestados pelo mecanismo de defesa e que no final acabam se expressando através de alta ansiedade, tão prevalente na vida psicológica de quem  sofreu algum tipo de amputação.

Não poderia deixar de mencionar a questão do “membro fantasma”, fenômeno que poderá ocorrer após a amputação.

Este termo foi criado em 1871 pelo americano Weir Mitchell, para descrever a sintomatologia encontrada nos soldados mutilados durante a Guerra Civil Americana, que apresentaram sensação da presença do órgão ou membro, após sua amputação, sendo referida como dormência, pontadas, cãimbras, coceira e mesmo dor.

Esta sensação tende a regredir paulatinamente e desaparecer meses ou anos após o trauma.

Os aspectos neuropsicológicos revelam uma memória que não foi esquecida pelo cérebro, ou seja, o córtex sensorial ainda não conseguiu se reorganizar e processar adequadamente a nova imagem corporal e a co-responsabilização no processo de reabilitação.

A reintegração corporal juntamente com os aspectos psíquicos, exigem a colaboração do indivíduo, no sentido de realizar o luto, que é um momento da elaboração da perda, desde a vivência da notícia da amputação, o enfrentamento da sua realização, até a ressignificação da imagem do corpo, adaptado à nova condição.

No contexto da amputação é muito claro o sofrimento, mas é necessário estimular os aspectos saudáveis do paciente e integrá-los num ajustamento racional, construtivo e criativo, tendo como consequência a obtenção da satisfação e a aquisição da segurança que é contextualizada na aprovação e aceitação por parte do ambiente humano.

Outro ponto digno de interesse é buscar soluções práticas, vindas das inovações tecnológicas em sistemas neuro-ortopédicos de alto desempenho, que muito tem contribuído para a reabilitação através da protetiação, que tem propiciado soluções incríveis e  com uma significativa melhora na autonomia, nas relações interpessoais e consequentemente na qualidade de vida.

A ordem pode ser reconquistada pela adaptação de próteses que criam condições favoráveis para que prevaleça a funcionalidade do orgão amputado, sendo possível vencer resistências iniciais e usá-as construtivamente, tanto na maneira especifica de relacionar-se com si mesmo, e com o mundo.

Os benefícios esperados com a reabilitação, é  possibilitar autonomia,  inclusão social,  e naturalmente devem envolver aspectos cognitivos, alterações de praxia, linguagem, percepção visual, enfim estabelecer uma rede de apoio ao paciente.

A vida continua e o tempo de cantar chegou, por isso movimente-se com saúde.

          

Deijone do Valle
Neuropsicóloga

2 comentários:

  1. Deijone do Vale, o que dizer deste belo texto? Palavras não resumem tamanha admiração que tenho por você, e a cada dia me surpreendo mais, agradeço a Deus pelo oportunidade de conhece-la e trabalharmos juntas!
    Nossa...como estou aprendendo com você... Que Deus continue abençoando este dom lindo que você tem, aliás...um dos dons né minha amiga,porque possui vários!!!!
    As nossas paixões são verdadeiras fénixes ,quando a mais antiga arde,renasce uma nova das cinzas, assim é a vida não é mesmo???
    Um beijo enorme!!!!

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  2. Parabéns, só mesmo uma pessoa sensível como vc para abordar temas tão interessantes!

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